domingo, 22 de julho de 2012

MEUS TEXTOS



A SESTA DO FAUNO

Estudo sobre o tema

A SESTA DO FAUNO

Rudolf Nureyev dança "L'Après-midi d'un Faune" de Claude Debussy.


Os Faunos são entidades que cumprem um importante papel na natureza, como ardorosos defensores das florestas e dos animais que a habitam. Nesse último, a situação às vezes se torna assaz grave. Eis que, Diana tem por primazia a caça, e aos Faunos desagradam, sobremaneira, o assédio dessa aos seus tutelados. Ora, os Faunos são divindades menores, se é que atingem este status. O confronto com uma das divindades do primeiro escalão do Olimpo se revela desigual e extremamente perigoso. Ninguém atrai impunemente a ira de Diana.
Na França, os Faunos já encontravam grandes dificuldades com as constantes caçadas do rei. Como se não bastasse enfrentavam a sanha olímpica de Diana. No entanto, esse distanciamento entre o Fauno e a Deusa e o confronto entre a caçadora e o defensor, não inibia tampouco o assédio do Fauno sobre Diana. Talvez fosse isso que mantinha a Deusa mais distante dos domínios do Fauno.
Naquela tarde, o Fauno após requintado almoço, fazia a sua sesta aproveitando o cálido verão. Acompanhada pelo seu séquito de ninfas a Deusa Diana aproxima-se para o seu banho, esbanjando o seu esplendor. O Fauno desperta da sua sesta e extasiado aprecia aquele quadro que sempre lhe povoou os sonhos. As ninfas faziam evoluteios ao redor da sua Deusa, enquanto esta se aproximava do lago cristalino. Aquela movimentação não causava nenhum ruído e até mesmo os animais da floresta cessaram seus movimentos, rendendo homenagem àquela cena majestosa.
A floresta de Sénart, palco das caçadas e encontros de Luis XV com a Marquesa de Pompadour, a preferida do Rei, era agora palco de uma nova cena envolvendo a paixão de um Fauno e a Deusa casta filha de Júpiter. Mais uma vez surge o binômio da caça e o amor, a relação que identifica a presa e o predador.
Aquela cena diáfana magnetizava o Fauno. Este saltando do seu nicho com a suavidade que marca os seres da floresta, investia em busca do objeto dos seus desejos. As ninfas impossibilitadas de oferecer defesa à sua mestra, fugiam aterrorizadas ante à presença do Fauno. Reafirmando o adágio que sustenta ser um dia da caça e o outro do caçador, a Deusa caçadora se via agora à mercê do seu principal predador. Lúbrigo e ébrio de amor por sua amada, o Fauno soltava guinchos incontroláveis, fixando Diana com frêmitos de paixão.
Acossada, Diana lutava por desvencilhar-se do seu agressor, buscando no seu âmago forças que a ajudassem. Talvez por um socorro do Olimpo, o Fauno se distrai como se visse senhor da situação ou que Diana tivesse cessado a sua resistência. Era o momento azado ansiado por Diana. Esta foge ao domínio do Fauno e fazendo uso dos seus atributos divinos, torna-se invisível, abandonando o local.
Atônito, o Fauno vê num relance o seu sonho desvanecer-se e a sua amada transformar-se numa névoa. Seus guinchos, agora sofridos, misturavam-se a algo semelhante ao choro dos humanos, revelando a dor da sua paixão incontida. Sua mágoa e angústia o conduziram novamente ao seu nicho para o início de mais uma noite solitária, onde o devaneio lhe faria companhia, substituindo o seu amor impossível.
       
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                                        O MACHO ALFA
Dentre as teorias que existem para sustentar a criação do Estado, no meu entender, basta apenas uma para sacramentar sua necessidade: o Estado existe para promover o controle social. Este controle é necessário para que a sociedade sobreviva. O homem é um animal sanguinário e sente, instintivamente, aversão pelo seu semelhante. Por esta razão, é preciso da coação Estatal para que não nos matemos uns aos outros e, com isso, acabemos com tudo o que foi construído até aqui. E por um estranho paradoxo, é  esse instinto agressivo que construiu o que chamamos por sociedade, cultura, civilização. Tudo o que o engenho humano produziu em obras e realizações, é fruto da sublimação dos instintos primários agressivos e, por isso mesmo:  destrutivos. Dessa sublimação nasceu a produção humana, a sociedade. Dentro dessa sociedade,  surge aqueles que comandam, que lideram. Esses são os machos alfas que conduzem o restante, aqueles  cujo estágio evolutivo não alcançou os que estão na liderança. Essa leva que  ficou na retaguarda, necessita do apoio e da defesa das lideranças. São essas lideranças que lhes possibilita sobreviver num ambiente hostil e extremamente competitivo. São os mais aptos, física e mentalmente que lideram a sociedade e dão o tom para o seu desenvolvimento. E é graças a eles que, aqueles que não lograram a mesma sorte, podem encontrar proteção e condições de sobrevivência.  São os mais aptos que irão montar as empresas para produzir, inventar e criar novas técnicas e novos produtos, gerando empregos, bem estar e impostos que irão alimentar o Estado.
            Como quase sempre essa liderança  é contestada e desafiada, surge a necessidade ainda que instintiva da agressividade como arma de ataque e defesa. Isso porque todos querem estar em destaque e se posicionar como o macho alfa. E assim como acontece no mundo animal, a disputa pelo comando envolve desafios e lutas onde a conquista do poder trás consigo a necessidade  do combate, deixando às vezes sequelas por toda a vida. Mas a assunção da liderança também envolve a responsabilidade pelo comando no enfrentamento do perigo. No momento em que o grupo se vê  desafiado, é o chefe desse grupo quem parte para o ataque, que se coloca na linha de frente e afronta o inimigo. E se o inimigo for mais forte, o chefe para ser digno do título precisa morrer em combate, jamais fugir.
            Portanto, a manutenção dessa carga de adrenalina nos limites da ordem envolve a presença de um poder superior que a todos submete, esse poder advém do Estado. É ele que impede o retrocesso à barbárie e aos tempos da lei do mais forte.  O Estado é o garante dos direitos  envolvidos em disputa nessa sociedade, por isso, ele detém o monopólio da força.  Por via de consequência, submeter ao poder Estatal é a forma de garantir a nossa sobrevivência enquanto grupo social.
Aamâncio
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LAMARTINE BABO E BOA ESPERANÇA




Boa Esperança é uma cidadezinha que fica aqui perto. É terra produtora de café, banhada pelas águas da represa de Furnas. Lugar onde acontece um festival anual de música. Também é terra do festejado Rubem Alves.
A cidade ficou famosa no Brasil inteiro graças à música de Lamartine Babo: Serra da Boa Esperança.
A história:
Lá pelos anos 30, Lamartine Babo passou a receber correspondência de uma moça que dizia ser sua fã e apaixonada por ele. Lamartine se empolgou e começou a trocar correspondência com essa fã da cidade de Boa Esperança, interior de Minas Gerais. O nome vem da Serra da Boa Esperança que corta parte do município e lhe dá a identidade típica das "Terras das Alterosas", nome poético das Minas Gerais.
O romance platônico entre Lamartine e Nair (era o nome da moça), começou a avançar, chegando ao extremo em que Lamartine se abalou do Rio de Janeiro, então capital federal, e foi parar em Boa Esperança, coisa que naquela época era uma aventura. Pois bem, quando esse cidadão, famoso no Brasil inteiro, aportou em Boa Esperança e falou que era Lamartine Babo, a cidade veio abaixo. Depois de ser bajulado pelo prefeito, juiz, promotor, delegado e todo hight society local, passando pelos políticos de maior expressão, o nosso Clark Gable finalmente disse a que veio: a cidade inteira partiu atrás dessa heroína chamada Nair.
Localizada a Nair, a história começou a ganhar um novo contorno. Eis que não era a Nair quem escrevia as cartas, o que nos leva a concluir que não era apaixonada pelo guapo compositor. Na verdade, quem escrevia as cartas e era gamado com Lamartine, era seu irmão, um dentista que repudiava o contato com mulheres, mas apreciava as carícias de outros do sexo masculino, de preferência bem másculos.
Passado o impacto inicial, Lamartine se tornou hóspede dos irmãos e, segundo as más línguas, não foi avaro com nenhum dos dois. Pelo menos, reza a lenda urbana em Boa Esperança que o dentista varou a vida inteira afirmando que Lamartine era um sucesso, na música e muito mais na cama. Quanto à Nair, não obtive maiores notícias. Retornando ao Rio de Janeiro, Lamartine Babo, em homenagem à Boa Esperança, compôs o que seria uma das suas melhores obras, Serra da Boa Esperança


Serra da Boa Esperança
Serra da Boa Esperança, esperança que encerra
No coração do Brasil um punhado de terra
No coração de quem vai, no coração de quem vem
Serra da Boa Esperança meu último bem
Parto levando saudades, saudades deixando
Murchas caídas na serra lá perto de Deus
Oh minha serra eis a hora do adeus vou me embora
Deixo a luz do olhar no teu luar
Adeus
Levo na minha cantiga a imagem da serra
Sei que Jesus não castiga o poeta que erra
Nós os poetas erramos, porque rimamos também
Os nossos olhos nos olhos de alguém que não vem
Serra da Boa Esperança não tenhas receio
Hei de guardar tua imagem com a graça de Deus
Oh minha serra eis a hora do adeus vou me embora
Deixo a luz do olhar no teu luar
Adeus

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